o dia está a terminar. sinto-me inquieta e com vontade de partir. mesmo sem fazer as malas nem arrumar nada. apenas pegar na carteira, no passaporte, na maquina fotográfica e sair por aí fora sem destino e sem olhar para trás.
quem me dera a coragem para o fazer. quebrar amarras. esquecer tudo e simplesmente partir sem olhar para trás.
sinto-me como um pássaro aprisionado numa gaiola - frase feita e usada tantas vezes que já se perdeu a conta e parece já nem fazer sentido. talvez, melhor dizendo, seja um peixe que saltou para dentro do barco e espera, agonizando, que alguém o deite borda fora antes que seja tarde demais.
sim. sou esse peixe. saltei para o barco de uma vida comum e igual a tantas outras, sempre almejando algo novo, sempre esperando algum acontecimento que me deite borda fora e me dê a conhecer aquilo com que sempre sonhei.
liberdade para ser quem sou. liberdade para viver fora dos parâmetros considerados normais. ou apenas coragem para o fazer.
estas quatro paredes sufocam-me. mas também me sufoca a cidade quente, poeirenta e barulhenta. sufoca-me a rotina do dia-a-dia.
faz-me falta o mar. a brisa salpicada de areia e sal. um barco que me leve ao sabor do vento para algum lugar distante e onde me encontre a mim mesma.
faz-me falta um céu pontilhado de estrelas e o som do marulhar da água na areia.
fazes-me falta.
faço-me falta.